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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Amigo de Niemeyer, René Burri foi um apaixonado pela capital federal

O fotógrafo suíço da célebre agência Magnum, morto este mês, veio diversas vezes a Brasília e publicou um livro só com imagens da capital


Publicação: 29/10/2014 08:40 Atualização: 29/10/2014 09:22
Fotografia de René Burri no baile
 de inauguração de Brasília,
tendo como pano de fundo
 o Congresso Nacional
O fotógrafo suíço René Burri, da lendária agência Magnum, esteve em Brasília ao menos três vezes. Célebres são as fotos que fez de Che Guevara e Picasso, mas as de Brasília não estão aquém no quesito sensibilidade para capturar a alma de quem ou do que está sendo fotografado. Arquitetura tem alma, dirão as fotos de um dos parceiros de Cartier- Bresson.

O interesse do suíço pela capital do Brasil surgiu antes mesmo de a cidade começar a ser construída. De um modo inescrutável: em 1955, René Burri produziu um primeiro ensaio fotográfico do arquiteto franco-suíço Le Corbusier, de quem se tornou amigo. As fotos foram publicadas na revista Paris Match. Quatro anos depois, Burri fez novas imagens de um dos formuladores dos preceitos da arquitetura moderna. 

Quando a capital fez 50 anos, René Burri relançou o livro Brasilia: Photographs 1960-1993, com 132 imagens da cidade, a maioria delas muito pouco conhecidas do grande público. O suíço esteve na Cidade Livre, acompanhou a inauguração da cidade, registrou o contraste entre a escala humana e a monumental na obra de Oscar Niemeyer e no projeto urbanístico de Lucio Costa, imortalizou o jantar de gala no Palácio do Planalto na noite da inauguração da cidade.
René Burri ao lado da fotografia que fez de Che Guevara
Arquitetura
Fez retratos, muitos, de Oscar Niemeyer ao tempo da construção da cidade. Clicou o arquiteto abrindo croquis no mezanino do atual Palácio Gustavo Capanema, onde foram desenvolvidos os primeiros projetos da nova capital. Embora nunca tenha se considerado um fotógrafo de arquitetura, ele se dedicou fortemente a retratar arquitetos e suas obras. Imagens de Le Corbusier, de Oscar Niemeyer e do mexicano Luis Barragan, entre outros, puderam ser vistas na exposição itinerante Utopia: fotografias de arquitetos e arquitetura, por René Burri (disponível no site da Magnum). As fotos de Corbusier e Barragan mereceram livros distintos. As de Niemeyer fazem parte do volume sobre Brasília.

A primeira viagem do parceiro de Cartier-Bresson a Brasília foi em 1958 e fez parte de amplo roteiro pela América do Sul. Dois anos depois, veio para a inauguração da capital. No site da Magnum, surgem imagens de 1977, quando as árvores das superquadras já começavam a quebrar a solidão do concreto armado. E em 1997, quando os carros já ocupavam as proximidades do Congresso Nacional.

Brasília entrou no portfólio de René Burri apenas dois anos depois de ele ingressar na Magnum. Àquela altura, o fotógrafo de 23 anos já havia trabalhado em Paris. A aproximação com os arquitetos modernos, o registro intermitente de suas obras, acabou por dar a Burri a fama de fotógrafo de arquitetura e transformá-lo numa inspiração para fotógrafos arquitetônicos contemporâneos. A arquitetura passou a ser fotografada não apenas como um valor em si, um objeto sem mácula, mas um volume entremeado pela escala humana e pela babel urbana. 

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