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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Postos serão obrigados a ajudar cliente a decidir entre álcool e gasolina

Estabelecimentos deverão colocar em local visível qual combustível é mais vantajoso para o motorista. Especialistas criticam: "Não dá para legislar o pé do motorista".

 postado em 22/07/2015 19:48 / atualizado em 22/07/2015 20:16


Postos de combustíveis do Distrito Federal serão obrigados a informar aos clientes se é mais vantajoso abastecer com gasolina ou álcool. A medida, de acordo com lei publicada na sexta-feira (17/7), passa a valer a partir de janeiro de 2016 e prevê multa para comerciantes que descumprirem a ordem.

A nova regra impõe aos estabelecimentos colocar em local visível ao consumidor qual combustível renderá mais no carro do cliente. A norma ainda será regulamentada: resta decidir o valor da multa e padronizar os painéis de aviso.

Os donos dos postos de combustíveis não gostaram da notícia. Em nota, o presidente do Sindicombustíveis-DF (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do DF), José Carlos Ulhôa Fonseca, atribuiu à lei “inutilidade enorme”. Para Fonseca, o motorista tem informações suficientes para fazer a escolha. “Tenho convicção de que o consumidor já sabe quais são os benefícios ao decidir o combustível que melhor se adequa no momento do abastecimento”.

Ainda segundo o presidente do Sindicombustíveis-DF, a colocação de placas vai causar “aumento da poluição visual”. Ele reclama “que o setor não tenha sido ouvido mais uma vez, pois todo parlamentar, ao propor algo, deveria debater antes com os representantes da sociedade organizada, daquele segmento.”

Jardel Lopes, chefe de gabinete de Dr. Michel, o distrital autor da lei, afirmou que a intenção do deputado é facilitar a vida do consumidor, sem precisar fazer contas para escolher qual o combustível mais vantajoso. “Essa informação vai ajudar todos os brasilienses a economizar combustível. É egoísmo dos comerciantes pensar em poluição visual”, opinou Lopes.

Letra morta
Mas a nova lei pode não ter a eficácia pretendida, e até prejudicar o motorista que se basear na informação divulgada por donos de postos. Isso porque a informação de qual combustível é mais vantajoso vai depender de cada carro e hábitos do condutor.

A norma que entrará em vigor no DF se baseia em um mantra repetido por mecânicos e espalhado entre consumidores: a regra do “ponto sete”. Para calcular qual o melhor combustível para abastecer o tanque, divida o preço do álcool pelo da gasolina. Se o resultado for igual ou maior a 0.7, compensa escolher o derivado do petróleo. Caso o valor dê menos de 0.7, o álcool vira a melhor opção.

O cálculo faz sentido e pode ser tomado como base, pois diferentes modelos de carro apresentam rendimentos parecidos no consumo de álcool e gasolina. Por isso a regra do “ponto sete” serve como referência, mas não pode ser tomada como verdade absoluta. “É uma média de consumo de todos os modelos. Baixar uma lei com isso é complicado”, aponta o engenheiro mecânico Henrique Pereira, integrante da Sociedade de Engenheiros Automotivos.

“Esse aproveitamento de cada combustível depende do motor, calibragem dos pneus, se utiliza muito o acelerador. Não dá para legislar o pé do motorista”, explica Pereira.

Para saber com qual combustível o carro rende mais, o motorista deve testar o consumo de cada opção na mesma situação. “Encha o tanque de gasolina e rode o mês inteiro. Anote quantos quilômetros fez por litro. Depois coloque álcool e faça o mesmo procedimento”, completa o engenheiro.

Por enquanto, com os preços atuais dos combustíveis, não vai adiantar o consumidor se preocupar tanto em fazer contas antes de abastecer. Há vinte anos, quando Henrique Pereira projetava o primeiro modelo brasileiro de motor bicombustível, o álcool era esperança de alívio para o bolso. “Quando iniciei a pesquisa para o motor flex, o álcool era 40% mais barato, muito mais vantajoso. Agora é difícil perceber vantagem econômica”, observa.

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